Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Para que não se esqueça ... Para que as minhas memórias não se percam para sempre e simplesmente porque me falta escrever um livro ....
As esposas dos Srs Oficiais
O meu chofer vinha buscar-me a casa de jeep. Andava 100 metros e parava na porta da messe de oficiais (no praça da parte de cima) para eu tomar o pequeno-almoço. Depois dava-mos a volta ao largo e entravamos no quartel, do outro lado da praça.
Certo dia, acabava eu de tomar o pequeno-almoço no bar da messe, pergunto ao militar:
- Quanto é?
- Está pago, sr Alferes, pode ir.
Olhei em volta, espantado. Não vi ninguém conhecido.
Isto repetiu-se durante alguns dias. Até que a minha curiosidade me fez voltar ao bar mais tarde.
- Quem é que me tem pago o pequeno-almoço?
Perguntei ao militar.
- É a esposa do nosso Major Martins que normalmente se senta naquela mesa.
Apontou para um canto da sala. No dia seguinte lá estava ela. Pagou o meu pequeno-almoço e sorriu para mim. Passamos a tomar o pequeno-almoço juntos na mesma. O que ela queria de mim? Apenas me pediu que lhe desse a chave do carro do marido.
O Major Martins era também da segurança, ligado à Pide. Passava meses percorrendo os aquartelamentos de Moçambique de uma ponta à outra. Vinha por vezes à metrópole trazer relatórios e levar instruções. Como conhecia bem a sua esposa, deixava-me o seu Fiat 125 com o pretexto de lhe fazer uma revisão. A razão no entanto era que eu o guardasse e não deixasse a esposa mexer nele.
As esposas dos nossos oficiais superiores tinham por hábito fazer reuniões “secretas” em casa de umas ou de outras. Algumas vezes bem longe da cidade e dos olhares mais indiscretos. E por vezes não havia carros disponíveis. Sempre era mais um.
Vários oficiais faziam o mesmo e deixavam o seu carro comigo. Aproveitava e dava eu uma volta com eles.
Tinha aprendido a conduzir com o militar, condutor do meu jeep. Ia com ele dar passeios pelos bairros de palhotas à volta da cidade. Mal saímos da cidade eu tomava o lugar dele. Ele ia-me indicando como fazer.
Certa vez parei entre e palhotas porque o condutor me disse:
- Ó sr Alferes, olhe que aí não passa.
- Passa, passa…
Disse eu. Passou mas arrastou o telhado de uma das palhotas e o telhado arrastou uma das paredes. Ainda tive tempo de ver um velhote deitado na enxerga. E fugimos dali.
O exame de condução foi feito no Serviço de Transportes do exército, por um colega Alferes que havia feito a recruta comigo em Mafra. Saímos por um portão do quartel e entramos pelo outro.
- Podes ir embora. Estás aprovado.
Mas gostei de fazer o que faziam a todos os militares que tiravam a carta: testes psicológicos e psicotécnicos para analisar o grau de resposta às diversas reacções sensoriais. Tudo nos conformes.
Mas voltando à messe e às senhoras esposas dos oficiais.
A antiga messe dos oficiais tinha na frente um hall grande onde havia um conjunto de cadeiras de verga tipo colonial. Era nessas cadeiras que se viam essas senhoras a apanhar sol. E foram inspiradoras para os cantadores do Cancioneiro do Niassa:
Em frente ao Neutel de Abreu
A quem roubaram a espada
Existe a Gorongosa
Pasto de vacas malhadas
Cheiinha de bois cavalos
E de outros animais
Costumam apelidá-los
De senhores oficiais
Numas cadeiras de verga
Expostas num grande hall
Lá estão as vacas malhadas
Com suas coxas ao sol
E os pobres desgraçadinhos
Que trabalham no quartel
Mal percebem coitadinhos
Qu’ali há putas a granel
Quando cheguei a Nampula a messe de oficiais estava a ser ampliada. Foi construída a nova sala de jantar e um salão de jogos.
A comida não era boa nem má. Era assim… assim… Ao café tínhamos chá gelado muito agradável. Ao almoço e ao jantar havia pescadas fritas congeladas em cada 3 de 4 refeições. Fiquei tão farto de pescadas de rabo na boca, que ainda hoje não sou capaz de comer tal peixe.
O salão de jogos era onde nos entretinha-mos mais. Não havia televisão. Jogávamos king. O jogo começava na sexta-feira à noite e prolongava-se por sábado todo o dia e até ao fim da noite de domingo. Mesmo a 1 centavo o ponto, chegava-mos a domingo à noite com mais de 20 contos em cima da mesa.
A maior parte dos frequentadores deste salão de jogos eram os oficiais milicianos, alguns com as suas famílias. Os oficiais superiores tinham o seu retiro no Hotel Portugal. Nem um nem outro eram espaços convidativos para as senhoras esposas dos oficiais superiores jogarem a sua canasta e beberem o seu chá. Então pediam a reserva do salão de jogos, um fim-de-semana em cada mês, apenas para elas. Era o nosso pior fim-de-semana…
Do grupo destas senhoras faziam parte as senhoras do Movimento Nacional Feminino. Aquelas eram esposas de altas patentes em Lisboa, que deambulavam pelos aquartelamentos fazendo a sua “psico”. Eu recebia regularmente chamadas telefónicas delas. Ouvi-as calado. No fim dizia que estava tudo bem. Que não precisava de anda. Já só as queria ver caladas.
- Sr Alferes, então como está? Fala a Teresa Supico Pinto do MNF. A sua saúde? Precisa de alguma coisa? Se precisar de alguma coisa pode contar connosco. Estamos cá para vos animar e ajudar a passar o tempo. Blá… blá…
Abílio
O Abílio sempre teve uma vida muito atribulada. Lembro-me de, no Casalinho, ter espetado um tronco de esteva numa canela. Tinha 4 ou 5 anos. Foi tratado como a mãe foi capaz. Com ajuda do farmacêutico e do médico em Cardigos. Ficou com uma lasca junto ao osso. Gangrenou e chegava mesmo a ver-se o osso. Felizmente dessa curou-se.
O nosso familiar (tio rico), era dono de vários negócios na zona de Nampula/Nacala. Salinas, padarias, descasque de caju, óleo de amendoim, etc. Vinha de férias alguns meses por ano. Ligava para o C. Santos em Lisboa para que tivesse no cais de Alcântara um mercedes no dia e hora que chegasse no paquete Funchal. Passeava 2 meses pela Europa fora e embarcava de volta, deixando o mercedes no cais.
Consta que um dia chegou até Telavive. Gostou e comprou um prédio de rendimento.
Noutra vez encomendou 2 mercedes para África. Um para ele e outro para a esposa. A esposa não tinha carta nem nunca a tirou. Os vidros partiram-se, os pneus furaram-se, as galinhas andavam lá dentro.
A sua casa foi desenhada em Lisboa e os mármores foram de cá já cortados, prontos a serem colocados.
Um dia em que cá estiveram disseram para a minha mãe:
- Como o seu filho não vai poder vir passar as férias cá à metrópole, pode passar as férias lá connosco.
Os seus 2 filhos tinham um andar alugado em Nampula para estudarem no Liceu. Tinha cada um o seu mercedes. No fim-de-semana iam para Nacala. Encontrei-os algumas vezes. Falavam em eu poder ir lá passar uns dias. Nunca concretizaram o pedido.
Uma vez perdi a vergonha. Meti-me no jeep e apareci lá. Ficaram admirados. Almocei com eles no salão de mármore, mas para dormir levaram-me para a cave, para dormir num sofá velho, cheio de teias de aranha, na companhia dos ratos. Deviam ter os 17 quartos da mansão ocupados!
Mas voltando aio Abílio…
Eles disseram à minha mãe que o podiam levar para lá. Que o criavam e que ele os podia ajudar. E foi.
Estava eu no despachante, em Lisboa, quando o Abílio foi atropelado em Santa Apolónia, enquanto esperava pelo embarque no paquete. Foi ao hospital e embarcou com gesso no braço. Acabou por ficar como criado deles, para todo o serviço, nas padarias de Nacala.
Quando eu estava em Nampula fui uma vez visitá-lo. Dormia num anexo destinado aos criados. Passei essa noite lá com ele. Mas pensei para mim: isto não é vida para ele.
Uns tempos mais tarde ligam-me de Nacala para a Messe de Oficiais em Nampula a dizer que o Abílio tinha tido um acidente de mota e precisava de ir para Hospital.
- Mandem-no de ambulância para o hospital de Nampula!
E mandaram. Passadas algumas horas ligam-me do hospital de Nampula a dizer que o meu irmão tinha chegado e que, para ele dar entrada, era necessário um depósito de 60 contos. Era fim-de-semana. Eu não tinha o dinheiro. Mas vali-me dos meus amigos (dos verdadeiros que sempre encontrei) e o dinheiro apareceu e o Abílio foi tratado.
Foi aí que o nosso familiar e vizinho do Casalinho, a viver em Nampula, que produzia e vendia bananas, que tinha o armazém cheio delas a apodrecer, me vendia as bananas já meio podres, ao preço que vendia ao público. Mesmo sabendo que eram para o Abílio que estava no hospital ao fundo da rua. Onde ele nunca fez uma visita. Sempre esperei que ele dissesse: leva lá esse cacho de bananas. Não é nada. Mas nunca disse.
Aí tomei uma decisão e comuniquei-a ao Abílio: vou-te mandar de volta para os pais.
Comprei passagens aéreas e no dia marcado lá estava o Abílio no aeroporto de Nampula, para embarcar para Lisboa. Azar. Diz o oficial da PIDE no aeroporto:
- Não pode embarcar. Como é menor precisa da autorização dos pais.
- Mas com os pais vai ele ter!
- Pois é mas leis são leis.
Pela primeira vez o meu tio me ajudou. Meti-me no jeep e fui-lhe pedir, por favor, que intercedesse a nosso favor. Sabia das suas ligações ao poder local. Levei-o ao aeroporto e lá convenceu o oficial da PIDE a deixá-lo embarcar.
O Abílio veio de Moçambique com a mesma quarta classe que levou de cá. Depois de regressar empregou-se no Ministério da Educação, tirou o Liceu, licenciou-se em gestão, foi inspector das Finanças. Tem um bom grupo de amigos. Fazem caminhadas e corridas. Passeia. Corre. Tem uma boa casa em Queluz (acabou por comprar a casa que alugáramos em 1970), com 5 assoalhadas. Sê feliz meu irmão!
Abílio, falo aqui de ti porque gosto muito de ti e a tua vida de resistente inspira-me. A vida tem-nos separado, mas nunca te esqueço. Desculpa se o que aqui escrevi não condiz a 100% com a realidade. Mas a esta distância alguma coisa pode não ter sido bem recordada.
Ar condicionado na palhota
Estava eu já colocado na Secção de Viaturas da CCS/QG de Nampula, quando o capitão, comandante da companhia foi substituído. Quem haveria de vir para o seu lugar: o Capitão Fernnades que havia sido comandante da minha companhia de instrução, em Mafra.
A companhia formou na parada para prestar honras de chegada ao novo comandante e ele, ao ver-me, diz-me:
- Então estás aqui? Não eras atirador de infantaria?
- Era. Mas, sabe, a vida dá muitas voltas…
Não mais se referiu ao que se passou em Mafra.
Uma das minhas tarefas era fazer as honras militares aos soldados locais, mortos em combate. Quando isso acontecia, juntava um grupo de 8 a 10 militares e seguia com eles de jeep para fazer os disparos de salva antes da urna descer à terra. Fui algumas vezes a localidades bem distantes, selva adentro.
Mas tinha que treinar a formação dos soldados e os disparos de salva. Agrupava-os nas traseiras da oficina, distribuía 2 balsas de salva a cada um e fazia aí os treinos e os disparos.
Certa vez estava eu a acabar o treino quando veio ter comigo o alferes que trabalhava com o Major Coimbra, oficial de segurança da cidade, com ligações à PIDE. Diz-me:
- O nosso Major exige saber quem anda aos tiros na cidade e porquê. Quer que vás lá explicar-te.
- Diz ao nosso Major que só recebo ordens do meu comandante. Ele que faça o pedido oficialmente.
O Major LCoimbra era aquele que apanhava os alferes desprevenidos sem boina, ou soldados desmazelados ou com um copito a mais e os levava para admoestação. E que jurara que ia pôr o trânsito da cidade na ordem. Com o jeep que lhe estava distribuído e com o seu motorista, chegava a fazer patrulhas pelas ruas como se fosse polícia de trânsito.
O seu Gabinete de segurança funcionava numa moradia fora do quartel, numa rua adjacente. O Major Lisboa era o mesmo que em Mafra (na altura capitão) me interrogara depois do incidente da morte dos 4 cadetes.
Ele telefonou ao Capitão Fernandes e este ligou para mim:
- O Major Coimbra quer que vás a sua presença.
E fui. Logo que cheguei teve para comigo a mesma reacção que tivera o Capitão Fernandes quando me viu na cidade:
- Estás aqui na cidade? Tu eras atirador! Não tinhas ido com uma companhia lá para cima para o Rovuma?
- São as voltas da vida.
Respondi.
Depois de lhe explicar o porquê dos tiros, só me disse:
- Está tudo certo. Mas é preciso pedir autorização para fazer essas manobras, mesmo dentro do quartel. Eu tenho que ser informado previamente para não haver alarme na cidade.
Disse-lhe que sim e fui-me embora. Passei a fazer os treinos da formação sem fazer os disparos.
Como a guerrilha da Frelimo se vinha aproximando cada vez mais da cidade de Nampula, (contava-se que já havia escaramuças na zona do rio Lúrio) o nosso Major lembrou-se, a dada altura, de fazer treinos militares mesmo com a população civil, em jeito de exercício de simulação. Ainda fui nomeado para colaborar com ele no que tocasse à simulação na zona do QG. Cheguei a ter uma pistola Walter atribuída para esse fim. Felizmente nunca se chegou a realizar por falta de colaboração das autoridades civis que temiam o alarido que isso iria gerar na cidade.
Relatavam-se mesmo casos de guerrilheiros que eram presos lá no mato e que ao serem presos se viravam para o alferes:
- Eu conheço o senhor alferes. Lembro-me de o ver na messe de Nampula.
Eles conseguiam mesmo colocar guerrilheiros a servir na messe dos oficiais, para obterem informações.
Um sargento meu amigo, natural da cidade, tinha a mulher a passar férias na foz do rio Lúrio, que era uma espécie de estância balnear. Boas praias! Quando surgiu esse boato de que a guerrilha já se aproximava do rio ficou preocupado e quis ir lá buscá-la. Era sábado. Mas tinha medo de ir sozinho e de noite e de levar o seu Toyota pelas picadas fora.
Fomos no meu jeep. Levava atrás uns jerricans de gasolina. A dada altura apareceu-nos um volto no meio da picada. Mesmo com a luz dos faróis não se distinguia o que era. Entre parar e seguir ele decidiu acelerar. O jeep deu um salto, passou por cima de algo e parámos. Era um javali. Morreu com o embate. Carregámo-lo no jeep e no domingo seguinte, depois do regresso, tivemos javali assado. Espetado num ferro grande, por cima de um monte de brasas, um negro ia rodando o espeto dando à manivela, outro ia pincelando com molho. Beberam-se umas cervejas. Espetava-se o garfo numa zona já assada e cortava-se com a faca.
Eu costumava ir com aquele sargento à caça aos domingos. Ele cedia a arma e os cartuxos. Eu arranjava o gasóleo. Havia na zona de Meconta (a 150 quilómetros, mais ou menos a meio caminho entre Nampula e Nacala) uma pista de aviação de terra batida. Crescia o capim. E para que os pequenos aviões pudessem aterrar em segurança era preciso cortar regularmente o capim. Dois dias depois do corte o capim começava a rebentar, viçoso. Colocávamos holofotes fortes no jeep e de noite íamos, com os faróis apagados colocarmo-nos no início da pista. Acendia-mos os holofotes e os coelhos eram às centenas. Arrancávamos pista fora e era só disparar. Depois voltávamos para trás para apanhar os 10 ou 20 coelhos que tínhamos apanhado.
Os militares faziam muita acção psicológica (psico como diz o cancioneiro do Niassa) sobre as populações locais, normalmente sobre os régulos e chefes de aldeia. Estavam sempre a oferecer-lhes prendas. Era importante porque, como não havia recenseamento das populações, quando era na altura das incorporações os militares iam pedir a cada régulo que arregimentasse 10, 20 ou 30 mancebos. E lá vinham eles de tanga para a tropa, aprenderem a ser soldados.
Contava-se mesmo o caso do General Chefe da Região MIlitar de Moçambique que fora, certo dia, com a esposa, visitar um régulo famoso e importante da zona de António Eanes (hoje Angoche). E no final da visita a esposa do senhor General dirige-se à esposa do régulo:
- A amiga peça alguma coisa que lhe faça falta, que nos arranjamos.
- O que eu queria mesmo era ter aqui ar condicionado. Está sempre tanto calor!
Foi então construída uma linha de cabos eléctricos de algumas dezenas de quilómetros para levar luz e ar condicionado à palhota do soba daquela aldeia. E como a palhota não tinha condições para ter ar condicionado, foi feita uma casa de alvenaria. E já agora foram instalados postos de luz na praça central….
Era neste canto que ensaiava os honras fúnebres
A PIDE em Mafra, a neve na Serra das Meadas e a filha do chefe da estação dos comboios de Lamego
Após a morte dos cadetes a recruta passou a desenrolar-se de forma menos custosa. Exercícios mais leves uns, anulados outros. Menos castigos. Deixamos de ter medo de refilar se tal se mostrasse necessário. A EPI (Escola Prática de Infantaria) estava cheia de pides. Vigiavam qualquer movimento suspeito.
Já no final de Junho, perto do fim da recruta, foram-nos dados diversos temas para cada um de nós elaborar um texto sobre um deles à nossa escolha. Não me lembro de nenhum especial, mas era tipo: a pátria e a família, as províncias ultramarinas, os militares na promoção da sociedade… Claro que era uma armadilha!
Lembro-me de escrever sobre nenhum deles. Sobre o que me veio à cabeça, ainda no rescaldo da morte dos colegas cadetes. Chamei nomes aos militares chicos, que só queriam poder, que só sabiam explorar a miséria humana, que só queriam mandar, etc.
Onde eu me fui meter. No dia seguinte veio ter comigo o alferes e disse-me:
- Sabes o que fizeste? Vou ser teu amigo. Vou rasgar a tua dissertação. Finjo que não a li. Escreves outra com calma, sem dizer disparates e eu substituo-a.
- Não, está escrito, está escrito!
- Estás por tua conta. Ainda vais a tempo. Se não quiseres vou levar isto ao nosso comandante de companhia (Capitão Fernnades), porque isto ultrapassa as minhas competências de punição.
O Capitão Fernandes disse-me mais ou menos as mesmas coisas. Que eu tinha que ser castigado. Que passava já a soldado raso e que arruinava o resto da minha vida. Mas que também ele não podia decidir. Ia enviar o meu processo para o comandante da unidade.
Uns dias depois sou convocado para me apresentar ao Capitão Coimbra. Soube depois que era o oficial de ligação com a PIDE. As perguntas que me fez eram do género:
- És comunista?
- Não sei o que isso é.
- O teu pai ou alguns dos teus irmãos tem ligação com o Partido Comunista?
- Não sei.
- Estás tramado!
A conversa não passou muito destes temas.
Passados mais uns dias, estava eu a regressar de mais uma manhã de instrução, todo sujo e fui intimado a apresentar-me na sala oval ao comandante do quartel. Nem me deixaram lavar nem almoçar.
Nunca ali tinha entrado. Nem sabia que o quartel tinha uma sala daquelas. Estava até com receio de sujar os mármores do chão com as botas que trazia calçadas. A sala oval era a antiga sala do capítulo dos fardes. Era agora o gabinete do comandante. Uma sala enorme, mármores de várias cores no chão fazendo floreados. Mármores nas paredes, tecto em abóbada, lustres…
Atravessei a sala em direcção à grande mesa de carvalho que, junto de uma parede, servia de secretária. Fiz continência e fiquei aprumado de pé em frente àquela personagem que não conhecia. Era o segundo comandante, coronel Vaz Simões. Sem lhe dizer nada apenas me disse:
- Estás com sorte. O nosso comandante está para Lisboa. Coube-me a mim receber-te. Eu percebo-te. Tenho filhos da tua idade. Também andam lá pelas faculdades a ouvir essas ideias malucas. Mas olha: vou ser teu amigo. Guardo comigo o que escreveste. Estás aqui indicado para seguir para Lamego para as Operações Especiais, mas não vais. Vais ficar aqui comigo a tirar a especialidade de atirador. Mas fica sabendo: se nos próximos 3 meses meteres o pé na argola, apanhas pelas 2. Podes ir.
Estive quase a ajoelhar-me e beijar-lhe os pés. Para Lamego era para onde ninguém queria ir. Era longe e a instrução era altamente rigorosa. A mania que eu tinha de ser voluntarioso, o primeiro a chegar e a ser o melhor nas provas físicas, deu-me notas altas na vertente de aplicação militar. Se não fosse aquela redacção lá teria ido para a Lamego.
Juramos bandeira e nos três meses seguintes (Julho a Setembro) fiquei em Mafra. Acabada a especialidade fui promovido a Aspirante. Era o primeiro posto de Oficial Miliciano do Exército.
Fomos de férias. E recebi logo instruções para me apresentar no GACA 2 de Torres Novas no início de Outubro. Ia formar companhia para seguir para Moçambique. Enquanto iam chegando os soldados para nós formamos recebi um passaporte para me apresentar nos primeiros dias de Novembro em Lamego. Afinal sempre ia parar a Lamego. Só que agora já era oficial e era apenas por um mês. Fui fazer um tirocínio de um mês em operações especiais e manuseamento de explosivos.
E logo em Dezembro! Lembro-me de ir às 7 da manhã fazer aplicação militar para o campo de futebol com meio metro de neve e nós de calção de ginástica e de T Shirt.
Certa noite fomos fazer um percurso nocturno pela Serra das Meadas. Nevava. Visibilidade zero. Levava 3 pares de meias, 2 pares de calças, 2 camisas, e gorros, sei lá que mais. Mas ia gelado. Em fila indiana íamos seguindo os passos uns dos outros. A dada altura paramos. Sentei-me numa pedra na beira do caminho e adormeci. Sem darem por mim seguiram caminho. Mais adiante diz o que ia na frente:
- Contagem.
E começa: 1, o segundo diz: 2 e assim sucessivamente. No final:
- Falta 1. Vamos regressar pelo mesmo caminho…
Quando chegaram ao pé de mim estava tão enregelado que não me consegui por de pé. Tive que ser ajudado.
Ao menos em Lamego havia umas tascas, mesmo ao lado da messe de oficiais, onde se comiam boas sandes de presunto.
Como não podia ir até Lisboa aos fins-de semana, fiquei por ali o tempo todo. Jogávamos ao King e passeava.
Lamego é uma cidade antiga, já com alguma dimensão e poder sobre as terras vizinhas. Sede de bispado com muita influência. Foi com naturalidade que foi autorizada a construção do caminho-de-ferro da Régua para Lamego. Iniciada nos anos de 20 do século passado, acabou por morrer com a crise dos anos 30. Fizeram-se pontes e viadutos. As pontes têm uma dimensão grandiosa e bastante beleza. A ponte sobre o Douro foi convertida para o percurso automóvel nos anos 40. Ao lado desta a ponte metálica da EN2. Foi abandonada muitos anos. Recentemente foi reconvertida para ponte pedonal. A ponte sobre o rio Varosa é utilizada pelos militares de lamego para exercícios de rapel. Em linha recta não são mais que 5 ou 6 quilómetros. Pela via aberta deviam ser mais de 20, tantas eram as curvas de ir e vir pelas encostas, para superior o desnível entre as duas povoações (hoje cidades).
Um domingo fui sozinho a pé até ao Peso da Régua, cerca de 8 quilómetros, pela EN2. Na volta subi pelo percurso construído para a instalar a via-férrea. Era mais longo mas mais interessante, atravessava pontes, hortas e vinhas. Nunca chegou a levar os carris.
O maior desaforo que ainda hoje se pode lançar a um habitante de Lamego é chegar à cidade e perguntar onde mora a filha do chefe da estação. Tiverem estação mas nunca o comboio nem chefe da estação.
Passado o mês de tirocínio recebo guia de marcha para me apresentar no Quartel de Torres Novas. Fora mobilizado para Moçambique e ia formar companhia no GACA 2 (Grupo de Artilharia conta Aeronaves).
Saí de Lamego dia 17 de Dezembro de 1971. Fazia 21 anos. O passaporte dava para bilhete de primeira classe (porque era oficial) até Torres Novas. Era sexta-feira e tinha que estar em Torres-Novas na segunda-feira. Consegui na CP trocar a primeira pela segunda classe e arranjei bilhete até Queluz. Ainda consegui vir a casa passar o domingo.
Na segunda-feira seguinte recomecei a minha vida militar em Torres novas.
A messe de oficiais de Lamego, numa foto muito antiga encontrada na net.
As pontes da linha de caminho-de-ferro entre Peso da Régua e Lamego, que nunca chegou a levar carris. Esta última é usada pelos militares de Lamego para exercícios de rapel.
4 cadetes mortos em Mafra
Apresentei-me em Mafra num dos primeiros dias de Abril de 1971. Nunca tinha visto edifício tão imponente. Fui integrado numa companhia de instrução de cadetes, futuros oficiais milicianos. Cerca de 120 cadetes, repartidos por 4 pelotões. E havia mais 4 companhias. Ao todo eramos cerca de 500 instruendos. Comandante de Companhia: Capitão Fernandes. Do quadro. Durão!. Os comandantes dos pelotões eram Alferes do quadro, saídos da formação da Academia Militar uns meses antes. Era a segunda incorporação do ano. Havia 4 ao longo do ano: Janeiro, Abril, Julho e Outubro.
Estranhei ser um dos mais novos. Porque a maioria havia pedido adiamento para tirar cursos superiores: havia advogados, médicos, contabilistas, etc. Havia mesmo cadetes que usavam lentes tão grossas que quando os óculos lhe caíam durante a instrução, paravam. Não viam nada. Mas naquele tempo ninguém se safava da tropa.
Pensei para mim que talvez fosse melhor ser esforçado e cumprir o melhor possível. Em qualquer prova era sempre o primeiro. Apenas bloqueei no salto para o galho. Ao princípio conseguia. A dada altura bloqueei mesmo. Era o salto duma plataforma alta para um tronco colocado de pé em frente e muito perto. Quase que se tocava com a mão no galho. Mas aquele pequeno salto no vazio aterrorizava muita gente. Nunca mais fui capaz.
De especial lembro-me das longas caminhadas até à serra de Montejunto, até à Foz do Lizandro, até Torres Vedras. Algumas de noite. Por vezes os agricultores vinham reclamar que tinham destruído uma cultura de morangos ou um pomar de peras. Normalmente o quartel pagava para evitar quezílias.
Certa vez fomos de camião e deixados perto da Cadaval. Tínhamos um percurso de 3 dias traçado no mapa até um certo campo de futebol onde estariam os mesmos camiões para nos levar de volta. Circulava pela mesma zona um oficial de jeep que teríamos que evitar a todo o custo. Em teoria era o inimigo a quem não nos podíamos mostrar. Se ele nos visse disparava e nós teríamos que ripostar.
Na primeira noite ainda dormimos no campo. Na segunda noite passamos por um palheiro e o alferes disse:
- Todos lá para dentro. Vamos dormir aqui na palha e se ouvirem barulhos de noite ninguém responde.
O jeep passou diversas vezes à frente do palheiro. Fez vários disparos mas ninguém reagiu. Nessa noite dormimos num “hotel”.
Numa quinta-feira (penso que entre Maio e Junho de 1971) estava previsto treino de tiro. Estava a chover e não dava para isso. O capitão ordenou aos alferes para levarem os cadetes a fazer aplicação militar na tapada. Aí vamos nós. Botas de lona a correr, pagar 10, rebolar e dar cambalhotas à chuva.
- Em fila indiana… toca a passar para o lado de lá!
O que ia na frente desapareceu nas águas. O segundo também. O terceiro e o quarto foram em seu auxílio e também desapareceram. O alferes atirou-se à água e só não ficou lá porque o agarrámos. Ficaram 4 cadetes enterrados no lodo da lagoa que fica do lado direito da picada que segue do portão da tapada para o paiol.
Tenho pesquisado na net informação sobre este incidente. Já está muito esquecido. Na altura foi bastante camuflado. Há quem diga que foram 2, outros dizem que foram 3. Até há quem diga que havia uma corda.
O que aconteceu foi que o alferes tinha atravessado a pequena lagoa nos exercícios finais da sua formação na Academia Militar. E na altura como não chovia o nível da água era baixo. Desta vez chovia a potes e a lagoa transbordava. Só foram retirados no domingo, depois de os bombeiros esvaziarem a lagoa. Estavam enterrados debaixo de mais de 1 metro de lodo.
Nesse dia fez-se levantamento de rancho. Ninguém almoçou e ninguém jantou. Não saímos das casernas. Todos a pensar numa resposta adequada. Foi decidido que no dia seguinte (sexta-feira) formássemos na parada, todos fardados e prontos para sair, com a boina metida no passador da casaca, em sinal de luto.
Os dirigentes tiveram o bom senso de abrir as portas e deixar o pessoal sair para o de fim-de-semana. Sem passaportes nem nada. Pensaram que segunda-feira regressariam mais calmos.
E é que regressaram. Pelo menos a maioria regressou. Alguns quantos desertaram. Houve até quem levasse com eles a G3. E até quem passasse a enviá-la, peça a peça, de Paris para o quartel de Mafra.
Para além deste incidente lembro-me do soldado a quem uma bala tracejante da metralhadora acoplada ao canhão-sem-recuo lhe entrou pelo sovaco e saiu pela face. É claro que morreu. Tinha-mos ido fazer disparos para a carreira de tiro. A metralhadora serve para disparar previamente uma bala tracejante que vai indicar se o canhão está bem apontado, caso ela acerte no alvo. Ninguém se lembrou de verificar se tinha ficado alguma bala na câmara. E enquanto um soldado limpava com o escovilhão o cano do canhão, outro carregou, sem querer, no gatilho da metralhadora.
Há ainda o caso do cadete que ficou cego dum olho. Ia-mos em marcha em duas filas de arma aperreada, naqueles terrenos sem vegetação ao lado da estrada entre Mafra e a Carapinheira. A fila de um lado apontava as G3 para um lado e a outra fila apontava-as para o outro. Lá muito ao fundo num local mais elevado o alferes ia fazendo tiro de bala real para o espaço entre as e filas. Uma das balas estilhaça um seixo e um dos estilhaços esvazia-lhe um olho.
A última semana da recruta (finais de Junho) foi passada num acampamento num eucaliptal, para lá de Torres Vedras. Depois viemos a pé até Mafra. Todos sujos e rotos, no último dia só queríamos chegar ao quartel para tomarmos banho. Tivemos que esperar largas horas na zona da Paz, porque estava a chegar uma alta patente militar brasileira que vinha para nos ver desfilar na parada em frente ao quartel. Todos sujos e rotos…
E só depois do desfie é que pudemos tomar banho e ir comer alguma coisa.
Eu cadete em Mafra
A casa de Queluz a Nônô e os óculos de cascas de laranja
Mantive-me na pensão da Rua de Stª Marta até à ida para a tropa. Entretanto o Manel também tinha vindo para Lisboa tirar um curso de Offset. Como tínhamos familiares no Ministério da Educação ele conseguiu depois lá um lugar na reprografia. A Lena e a Lúcia também tinham vindo para Lisboa para empregadas internas na casa de uma senhora da sociedade, irmã do Sr Visconde. Tinha sido o primo Manel de Moura que dera um toque ao Sr Visconde. Estiveram lá pouco tempo. A Lúcia foi para uma casa de freiras e a Lena acabou por ir trabalhar também para o Ministério da Educação e alugou uma parte de casa no Bairro Alto.
Estava na tropa em Mafra e vinha a Lisboa aos fins-de-semana. Costumava ficar com ela.
Nessa altura tinha um amigo da Roda, mais velho, que também fora seminarista, o Tonito. Ele tinha uma amiga que conhecera dos seus tempos de tropa na Amadora. Essa amiga tinha mais 2 irmãs. Eram oriundas de Elvas e moravam com os pais na Amadora. Parece que ainda eram conhecidas daquele que cantava “Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à vista...". Essas raparigas eram interessantes porque a mãe era chinesa de Macau. O pai delas fora lá sargento do exército. E aquela mistura de português e chinês dei-lhes um traço característico.
Sempre que vinha a Lisboa, eu o Tonito tínhamos companhia para o fim-de-semana. Ele com a mais velha e eu com a do meio. Íamos à praia a Carcavelos e ao Estoril, percorríamos os cafés da Reboleira e Amadora, íamos dançar e beber uns copos para uma boite que abria as portas aos domingos à tarde para a malta mais nova e que ficava na Rua Filipa de Vilhena. O Tonito chegou a namorar com a mais velha. Acabou por casar com uma rapariga lá da terra. Eu tentei alguma aproximação à irmã do meio. Foi o meu segundo amor platónico. Ainda hei-de falar do primeiro. Mas sempre que lhe puxava pela conversa ela dizia que tinha um namorado que era piloto da Força Aérea. Nunca o vi. O certo é que passávamos muitos fins-de-semana juntos. Mas fiquei-me apenas pelo amor platónico pela minha chinesinha Nônô…
Quando fui para Moçambique levei o seu contacto. Ainda escrevemos algumas cartas. Nunca existiu empatia e acabou.
Quando regressei da guerra e fui estudar para o ISE estava ela a acabar o curso. Apenas nos cumprimentávamos. Depois encontrava-a regularmente na Rua da Prata. Ela vinha de comboio da Amadora e apanhava o eléctrico para o Arco do Cego. Trabalhava na Casa da Moeda.
Como eu e alguns dos meus irmãos já estávamos em Lisboa foi por sugestão do Tonito que começamos a procurar casa para alugar para todos. Um dia fui com ele a Queluz ver uma casa disponível. Levei lá a Lena e ficamos com ela. Tinha 5 assoalhadas. 2 quartos para os rapazes e 2 para as raparigas.
Atrás de nós vieram os outros todos. Até que ficaram apenas os pais em Cardigos. Eu estava na tropa. E eles lá foram arranjando emprego, a maioria deles no Ministério da Educação. O certo é que a vinda para Lisboa abriu os olhos a eles todos. A maioria acabou por estudar à noite, acabaram por tirar cursos superiores e arranjar empregos melhores.
O Mário também deu as suas voltas na vida. Foi tirar a escola primária a Canha, perto de Setúbal, a casa de familiares da parte da minha mãe. Quando vinha a casa nas férias do Natal trazia de lá laranjas. Eram as maiores laranjas que já vira. Enormes. Tão grandes eram que a minha mãe descascava-as e dava a cada um apenas um ou 2 gomos. Mesmo assim havia guerra pelas cascas. Para comer a parte interior da casca. Estas laranjas serviam para fazer óculos: eu cortava 2 lascas da casca em lados opostos. Depois cortava uma tira da casca entre as duas lascas sem a separar. Por fim tinha que meter a faca por dentro da casca e separar toda a casca do miolo. Enfiava a tira debaixo do chapéu e afastava os dois buracos para os lados, ficando um em cada olho. Era assim que eu brincava.
Depois o Mário esteve no seminário de Poiares. Tentou e não se deu bem. Acabou por ir tirar o liceu a Castelo Branco. Usava a barba grande e os cabelos enormes. Cada vez que vinha ao Casalinho havia sempre discussão com o pai. Quase chegavam por vezes a vias de facto. Ele não queria aquelas guedelhas. Ele veio depois para Lisboa tirar Medicina. Teve ligações esquerdistas. Constou-me, depois de eu vir de Moçambique, que uns dias antes do 25 de Abril alguém ligado à PIDE batera à porta da casa de Queluz a perguntar por ele.
Depois do 25 de Abril as suas ligações esquerdistas levaram-no a participar em actividades de apoio local em locais mais desprotegidos. Num bairro de barracas da Amadora participou na construção de um espaço para apoio social e escolar.
A casa de Queluz serviu para todos nós. Até para receber o pai depois de adoecer e a Mãe quando ficou viúva. Foi lá que faleceu o pai e mais tarde a mãe.
Foi para lá que fui morar quando vim de Moçambique. Foi de lá que saí para ir casar. Lá faleceu o João, vítima de um ataque epiléptico nocturno. De lá saíram os meus irmãos todos menos o Abílio e o Alberto. Quando o senhorio vendeu o andar, o Abílio comprou a parte dele e a parte do Alberto. O Alberto foi depois comprar uma para ele para os lados de Sintra.
A dada altura a minha mãe chamou os filhos todos. O Manel já tinha falecido. Veio a viúva. Havia feito lotes dos terrenos todos como ela entendeu. Escreveu os nomes em papelinhos e enrolou-os. A começar pelos mais velhos cada um tirou um papel. Para mim ficou o Covão do Rocinho e parte do Cabril, entre o estradão e o lado direito da barragem. A casa ficava para todos. Assim evitou a guerra de partilhas e faleceu em paz.
A barragem do Casalinho com água preta, fruto dos incêndios de 2003. A maior parte dela construida em terrenos dos meus pais.
Os terrenos de lá ficaram para um dos meus irmãos. Uma tira que restou do lado de cá ficou para mim.
O Covão do Rocinho: a horta e os terrenos que me calharam, ardidos em 2003.
À esquerda a Fernanda, a mãe dela (D Palmira) e os meus filhos Bruno e Tiago.