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Secção de viaturas do QG

por António Tavares, em 16.03.17

Secção viaturas QG

Depois de receber oficialmente ordens para assumir o comando da Secção de Viaturas da CCS/QG/RMM lá fui eu, com o alferes que ia substituir, assumir o meu novo posto de trabalho durante mais de um ano e meio.

Sentado na secretária ia recebendo instruções. Eram oitenta e tal jeeps, trinta e tal volkswagens, mais de dez mercedes, alguns camiões berliets e mercedes, mais de 100 condutores, uns quinze mecânicos, uma secção de peças, um armazém com todos os acessórios à carga de cada uma destas viaturas, uma oficina mecânica completa, uma ferramentaria, eu sei lá que mais.

Em 2 dias conferi tudo, assinei o auto de posse do cargo e aí estava eu com responsabilidades que nem eu imaginava.

A primeira ação que tomei foi chamar o sargento mecânico.

- Senhor sargento, a guerra é sua, não é minha, você é que é chico (militar de carreira), eu não quero saber disto para nada. Não me arranje é problemas, porque quando chegar a altura quero-me ir embora descansado. Você ponha e disponha. Eu apenas quero mandar no pessoal. Castigos, promoções, mudanças, etc. isso é comigo. Do resto não quero saber.

- Ainda bem que você me diz isso, meu alferes. Sabe, nós às vezes fazemos aqui umas coisinhas…

- Não quero saber.

Foi um resto de comissão impecável. O sargento era mecânico de formação, tomava conta da oficina, das peças e da ferramentaria. Eu tomava conta do pessoal e da atribuição de viaturas aos diversos serviços.

Para mim reservei o melhor dos jeeps e o condutor mais fiel. Entre o apartamento onde morava, a messe de oficiais onde tomava o pequeno-almoço, e o meu local de trabalho, se fosse a pé não demorava mais de 10 minutos. Mas tinha o meu jeep e o condutor de serviço para me conduzir. Era um senhor.

O meu chofer era filho de machambeiros locais com produções agrícolas importantes na zona de Muecate, a cerca de 100 quilómetros de Nampula e fornecedores do exército. Sempre o protegi e nunca permiti que ele fosse transferido para zonas perigosas. Para me compensar trouxe-me uma vez um cacho de bananas tão grande que foram precisos vários rapazes para o levar para o primeiro andar. Penduramos no teto, envolto em jornais. Houve bananas para todos durante muito tempo.

O sargento comprava por vezes carros estampados no ferro velho, sobretudo volkswagens por serem de mecânica simples. Num canto da oficina punha os mecânicos e bate-chapas a trabalhar. Desmanchava os motores, conseguia retificar cambotas e cilindros. Montava-os e vendia-os.

Aprendi com ele alguns truques de mecânica. Os pisca-piscas eram naquele tempo mecânicos. Quando começavam as piscar demasiado rápido era certo e sabido que iam queimar. Ele conseguir abrir os automáticos e com perícia ajustar a mola interna para piscassem mais lentamente.

A distribuição era também feita através de rotores mecânicos. No centro do distribuidor havia uma mola com um carvão na ponta para passar a energia do rotor para os bornes. Por vezes esse carvão partia-se. Solução? Substitui-lo pelo miolo de uma pilha tipo AA.

Esta minha curiosidade foi-me útil, muitos anos mais tarde. Tinha o Bruno 2 ou 3 anos. Ia na cadeira no banco de trás do Fiat. Ao passar pela ribeira de São Julião na Ericeira, depois de umas chuvas fortes, a ponte tinha desaparecido, passava-se pelas águas. Não quis voltar para trás. Aproximei-me da água, acelerei a fundo e pumba… asneira… o carro parou mesmo dentro da água. Não quis pegar mais.

Estava quase o sol a pôr-se. Pensei: deve haver humidade no distribuidor, pois tinha chapinhado água por todo o lado. Abri-o e com um pano tentei limpá-lo. Pimba… o carvão caiu na água. Parei a pensar e lembrei-me do que vira em Nampula. Estiquei a mola até ela tocar no rotor em baixo. Peguei na “prata” do maço de tabaco (na altura fumava) e fiz um rolo com ela. Meti-a dentro da mola. Montei tudo. Dei à chave e boa… pegou.

Agora arranquei devagar e consegui sair da água. Na próxima tasca que apareceu no caminho comprei uma pilha AA, esmaguei-a para retirar o miolo de carvão e coloquei-o lá. Quando, passados vários anos vendi o carro, ainda lá ia.

Ainda fui útil ao sargento. Vim para a metrópole um Maio de 1974. Um mês depois do 25 de abril já toda a gente pensava em transferir para cá o mais dinheiro possível. Mas as transferências legais já estavam proibidas.

Nós, militares, podíamos trazer todo o dinheiro que lá tínhamos recebido em ordenados. Eu tinha gasto tudo. Fui ter com ele e disse-lhe que podia trazer-lhe cerca de 100 contos, se me desse 10%. Aceitou. Entreguei o dinheiro nos serviços financeiros do exército e levantei-o nos mesmos serviços em Lisboa. Depositei a parte dele na conta que me indicou.

Estava eu depois a trabalhar na alfândega, uns bons meses mais tarde, quando ele por lá passou para desalfandegar os caixotes que ele e a família traziam.

Sem me ter apercebido o sargento alertou-me para um problema que, se não se tem dado o 25 de Abril, me podia ter trazido problemas. Cada viatura (e eram perto de 200), tinham a seu cargo um conjunto de acessórios: chaves das rodas, vários tipos de outras chaves, pneu suplente, manual, pá, etc. E para que não se perdessem estes acessórios estavam guardados, em prateleiras, numa arrecadação. Diz ele que eu deveria ter conferido todas os acessórios e só deveria assinar depois de os listar, viatura a viatura.

Ora eu apenas tinha sido conduzido à porta da arrecadação e disseram-me: e aqui tens as peças e acessórios de cada viatura. Assinei a tomada de posse como se estivesse tudo bem. E não estava. A maior parte das peças e acessórios tinham desaparecido.

E eu tinha ouvido falar de pessoas que foram obrigados a prolongar as missões em África para compensar com o seu trabalho o extravio de bens que tinham a seu cargo.

- Já viu, meu alferes, se a pessoa que depois o vier substituir se lembra de conferir isto tudo? Está tramado.

Mas ele sempre foi meu amigo. Eu chegava sempre tarde. Mesmo morando a 10 minutos, mesmo vindo de jeep. Por vezes havia pessoas à minha espera, até mesmo oficiais superiores.

- Eu já o vi por aí.

Respondia-lhes ele sempre.

Certo dia disse-me:

- Eu vou ajudá-lo. Na maior parte dos meses sobra-me verba dos gastos com a oficina. Vamos aproveitar essas sobras para ir repondo, dentro do possível, as faltas.

Assim foi. Reorganizámos a arrecadação, compramos tábuas grandes, marcamos com etiquetas o espaço de cada viatura, conferimos as peças de cada uma e listamos as faltas.

E todos os meses se ia adquirindo no mercado local, aquilo que era possível.

Posto Trabalho.jpg

Eu no meu posto de trabalho. Na parede o mapa de atribuição de viaturas.

Jeep.jpg

o meu Jeep: MX-23-95 a entrar no quartel.

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 A oficina mecânica ao fundo. à direita a prisão e a arrecadação. à esqueda uma das casernas dos soldados.

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publicado às 15:48

Seminário de Fátima

por António Tavares, em 15.03.17

Seminário de Fátima

Completados os 2 anos do 1º ciclo (atual 5º e 6º ano) regressei ao Casalinho. Nesse verão de 1965 recebi no Casalinho a visita do padre Dionísio. Era motard e apareceu de mota. Convidou-me para dar um passeio com ele visitando os seminaristas que moravam nas aldeias vizinhas. Era uma maneira de manter os contatos e preparar o regresso em outubro, agora para o seminário de Fátima.

No casalinho convenceu os meus pais a reservar um quarto só para mim. Já que ia ser padre convinha dormir num local mais resguardado. O meu pai arranjou um divã para eu dormir num canto daquilo a que se chamava sala, mas onde eu nunca tinha comido. Aliás a única vez que me lembro de lá ter comido foi quando lá fui com os meus futuros sogros, para a apresentação formal.

Depois fomos na moto visitar um seminarista nas Cimadas Fundeiras, já em Proença-a-Nova e o Manuel Nunes lá para os lados de Cernache do Bonjardim.

No outubro de 1965 lá fui eu apresentar-me no seminário da Consolata, em Fátima.

Era um edifício imponente. As rotinas eram as mesmas. Mais uma vez, nos 3 anos que lá passei, não me lembro de nada que fizesse lembrar os abusos que hoje se relatam, sobre os rapazes.

No entanto foram os anos em que me apercebi que estava a amadurecer como homem. Passei dos 15 aos 17 anos.

Os padres compraram-nos giletes para cortarmos os pelos que iam despontando na cara. Mas nada nos disseram sobre os pelos que também iam aparecer mais abaixo. E se eu cortava os da cara também deveria cortar esses. Pensei. Foi o que passei a fazer às escondidas na casa de banho, na altura do banho. Só que quanto mais os cortava mais fortes eles cresciam. Tive que desistir.

Uma das tarefas que me foram atribuídas foi a de guarda da arrecadação das ferramentas. Na altura das limpezas eu distribuía as vassouras, as pás, a dose de serradura para ser misturada com água e espalhada para agarrar a sujidade antes de varrer. No final da limpeza recebia tudo de volta, limpava e arrumava.

A arrecadação ficava mais baixa que o nível do solo. Desciam-se alguns degraus. No terreno em frente passava com regularidade a rapariga da receção do Hotel PAX que ficava mesmo ao lado do seminário (pertencia aos padres).

Jovem, bonita, pequenina, mini saia a meio da coxa. Era moda na altura. Quando ela passava eu escondia-me no fundo da arrecadação, para não ser visto e para ter um angulo de visão o mais baixo possível.

As cozinheiras do seminário costumavam vir aproveitar o sol para uma zona de ervas atrás das sebes junto da horta que ficava ao lado da arrecadação. Eram bastante mais velhas. Mas sem ser visto lá ia eu espreitar pelas sebes.

Quando se iam embora tinha por hábito passar por lá para ser se tinham perdido alguma coisa. Reparei nuns papéis escritos à mão e rasgados em pedaços pequeninos. Apanhei-os todos e tentei colá-los. Não consegui. Apenas percebi algumas palavras. Tinham a ver com desgosto de namorados.

Foi este o meu despertar…

O hotel PAX era um edifício moderno, foi construído pelos padres, nos 3 anos que lá estive, para rentabilizar os terrenos. Assisti à terraplanagem, ao transporte de camiões e camiões de pedras para os alicerces. Fomos levados a colaborar na construção das fundações, transportando as pedras em carros de mão. Apercebi-me que a parte mais funda tinha uma formação em anfiteatro. Perguntei a um padre para que era aquilo. Reposta: é para fazer um cinema. Depois podemos vir aqui ver filmes. Só podia ser para nos animar a carregar pedras.

Claro que nunca lá entramos. Era apenas a zona de eventos do futuro hotel.

Mais tarde, quando já trabalhava no despachante, vim a saber que o meu patrão, Despachante Oficial, senhor visconde de Fonte Boa, colaborador dos Cursos de Cristandade, tinha uma suite reservada para o seu uso exclusivo neste hotel.

Um dia um dos padres pediu-me para guardar por uns tempos a sua viola na arrecadação. Não sabia tocar viola. Muito menos iria ter dinheiro para comprar uma. Pensei: posso construir uma. Tinha à mão uma velha placa de contraplacado. Tirei o molde da viola do padre. Recortei com uma serra. Nunca passou dali. Por muito que pensasse nunca consegui imaginar como conseguiria fazer as restantes partes da viola e como as iria unir.

Morreu ali mais um sonho…

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Eu na entrada do seminário de Fátima

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Eu com um transistor na mão e mais 3 seminaristas na alameda de entrado do seminário. À direita o edifício da arrecadação. Do seminário apenas se vê um bloco. Ficavam mais dois para a esquerda.

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 Seminário de Fátima à esquerda e Hotel Pax em frente.

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publicado às 09:57

Infância dificil

por António Tavares, em 14.03.17

Infância difícil

Sei que fui uma criança difícil. Sei que dei muito trabalho aos meus pais. Teria sido aquilo que hoje se chama de criança superativa.

Sempre quis fazer coisas, copiar e reproduzir brincadeiras.

O Carlos (filho do meu padrinho) recebia regularmente presentes caros dos tios ricos. Eu também queria. Ele recebeu um triciclo. Nunca mo emprestou. Decidi construir um carro a pedais.

Já tinha feito vários carros. 3 tábuas, 4 rodas cortadas de toros de madeira, pregos e estava feito. O meu pai fartava-se de ralhar porque lhe fazia desaparecer os pregos todos. Para não o ouvir ralhar arrancava pregos de tábuas velhas, endireitava-os e usava-os. Desta vez decidi substituir a tábua da frente por um ferro dobrado de maneira a poder ser pedalado. A dificuldade consistia em ligar esse ferro às rodas feitas de toros de madeira. Nunca funcionou. Tinha 9 anos.

Brincar com uma aduela de barril empurrada por em ferro curvado era a maior brincadeira que conseguíamos. Mas as aduelas eram curvas para um dos lados. Logo nunca andavam a direito. Um dia encontro um aro feito de ferro redondinho. Suprema felicidade. Era mesmo o que queria. Para que ninguém brincasse com ele nunca o levei para casa. Deixava-o escondido no mato. Ia para lá brincar e depois deixava-o lá. Um dia o aro embala encosta a baixo, galga matos e moitas, corro atrás dele mas não o apanho. Todos os anos quando voltava ao Casalinho lá ia eu percorrer a encosta a ver se o encontrava. Entretanto o mato foi roçado várias vezes. Alguém o deve ter encontrado.

Quando ia pastar as cabras gostava de levar comigo uma enxada e um canivete. Enquanto elas pastavam eu abria caminhos e estradas pelos matos. Quando voltava mais tarde limpava-os novamente e prolongava-os. Simulava curvas e descidas inclinadas. Não tinha carros para passar por elas. Passava eu.

Construía carros e barcos cortando com o canivete as carrascas de pinheiros. Viajava com eles em sonhos.

Normalmente levava para almoçar uma morcela ou farinheira e um naco de pão. Levava fósforos. Acendia uma fogueira entre duas pedras. Assava os enchidos espetados num pau.

Os fósforos deram-me ideia de construir bombas. Passei a levar também um prego. Com ele abria um buraco num tronco seco de oliveira. Descobri que era a madeira mais rija disponível. Logo o estampido deveria ser maior. Enchia o buraco com cabeças de fósforo. Empurrava o prego contra elas e dava uma martelada com uma pedra. Pum … Depois do estrondo punha-me à escuta a ver se aparecia alguém. O meu pai dizia que a GNR andava por ali às vezes.

Quando saía com as cabras para os lados da Cardosa, assim que atravessava a estrada de Cardigos elas já sabiam que iam para o Vergancinho. Largavam-se a correr que nem doidas e só paravam em cimo do morro das heras. Tratava-se de um morro de pedras construído para proteger uma horta e um pomar das eventuais inundações do ribeiro. Para proteger o morro plantaram heras que tomaram conta do morro todo. Para elas era um banquete.

Enquanto comiam sossegadas eu brincava. Descobri por perto um poço abandonado entre silvas. Pensei que estaria mesmo abandonado. À volta do poço estavam, amontoadas, as pedras que foram arrancadas de dentro dele. O que me havia de lembrar: empurra-las de volta para o poço. Adorava vê-las a rolar e catrapumba … ouvi-las cair dentro do poço.

Claro que descobriram que fui eu. O meu pai viu-se obrigado e esvaziar o poço para as retirar. E voltei a fazer o mesmo a um poço do meu padrinho, mesmo perto do Casalinho.

Aos 5 anos, a minha mãe tinha 3 filhos mais novos para criar (Mário e os gémeos Isaura e Abílio) pelo que fui entregue aos meus avós paternos, na Chaveira. Distava 4 ou 5 quilómetro do Casalinho. Por lá me mantive contrariado. Não tinha com quem brincar nem com o que brincar.

Roubei-lhes um canivete para me distrair. Escondi-o num buraco entre duas pedras do palheiro. Apanhei até contar onde estava. Ficava horas debaixo das escadas da casa em frente. Era como se fosse o meu abrigo. A casa estava abandonada e ali os avós viam-me sempre que chegassem à janela. E ainda gostava mais quando chovia. Brincava apenas com os sonhos.

Estava proibido da sair do pé da casa. Muito menos ir para o pé do sapateiro que cozia solas na rua de baixo. Que era para onde gostava de ir ver o homem a espetar a sovela e puxar o fio.

Quando o meu avô dava pela minha falta já sabia onde eu estava. Vinha-se por na curva da rua com o cinto na mão. Na parte de fora da curva. Eu corria para casa e para encurtar caminho cortava a curva por dentro pensando que ele não me apanhava. Apanhava sempre com o cinto.

Fugi várias vezes para casa dos meus pais. Para encurtar caminho, porque a estrada dava muitas curtas, seguia pelas veredas dos montes. Voltavam a levar-me lá.

Certo dia já o sol se estava a por no horizonte e eu a chegar topo do último monte de onde se via já o Casalinho. Vejo uns joelhos no meio das moitas, mesmo ao lado da vereda. Alguém estava ali deitado. Paro. Pensei: o que fazer? Já estava longe demais para voltar para trás. Já via as casas do Casalinho. Seguir? E se ele acorda? Veem-me à memória as descrições dos lobisomens que se espojavam nas noites de lua cheia nos cruzamentos dos caminhos.

Segui, pé ante pé, sem fazer barulho. Passei por ele sem o olhar e corri… corri… até cair extenuado à porta de casa. Nem consegui explicar o que se passou. Desta vez não fui levado de volta.

Passei a ir com o meu pai para as obras, sempre que ele andava por perto.

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Então não é que vou encontrar em 2017, à venda numa loja chinesa em Ponta Delgada, um aro de brincar, em ferro, precisamente igual ao que havia há mais de 50 anos!

Estive quase para o comprar.

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publicado às 10:26

Cancioneiro do Niassa

por António Tavares, em 13.03.17

Fado do desertor

(Cancioneiro do Niassa)

Reprodução de memória

 

Estava eu na minha terra

Disseram-me vais para a guerra

Toma lá uma espingarda

E um bilhete pró navio

E uma medalha num fio

E uma velha, velha farda

 

Após dias de caminho

Estava já muito magrinho

Esfomeado como um rato

Olhei e vi palmeiras

Macacos e bananeiras

Entendi, estava no mato

 

Veio depois o nosso cabo

Disse que eu era um bom nabo

Por à noite a Deus rezar

Para ele um bom magala

Vai à noite para a Sanzala

Para uma preta arranjar


O Furriel e o Sargento

Chamavam-me fedorento

Se me viam lavar

O Alferes e o Capitão

Diziam que era calão

Se me viam descansar

 

Estava já farto de guerra

Que ao lembrar a minha terra

Fui um dia passear

Numa palhota sozinha

Estava uma preta girinha

Que ao ver-me pôs-se a chorar

 

E dessa moça morena

Eu tive tanta pena

Que fugimos para o mato

Somos um casal feliz

E já temos um petiz

Que por sinal é mulato

 

A referência a “sanzala” sugere que este fado tenha sido escrito em Angola e depois transportado para Moçambique. Aqui o termo era “machamba”.

Esta realidade é verdadeira, porque muitos soldados desertaram mesmo.

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publicado às 11:17

A doença negra

por António Tavares, em 08.03.17

A doença negra

Estava eu um dia em Nampula como oficial de dia ao Quartel-General quando fui acometido por umas dores abdominais tão fortes que, para não desmaiar, os soldados carregam-me no jeep e levaram-me para as urgências do Hospital Militar.

Estava de médico de serviço o capitão médico mais conhecido em Nampula. De formação era Otorrinolaringologista. Mas na tropa era pau para toda a colher. A sua barriga devia ter à vontade 2 metros de perímetro. Fumava e bebia que nem um odre. Tinha por hábito trazer uma garrafa de whisky sempre que estava de médico de dia. E muitas vezes a meio do dia mandava um dos soldados de serviço ir a sua casa buscar outra.

Já podem imaginar a minha resposta quando ele, depois de me carregar na barriga, diz:

- É apendicite aguda. Levem-no já para a sala de operações.

- Nem pense nisso. Vou-me já embora.

Tentei levantar-me mas não consegui.

- Pronto, não quer, não quer… Ponham-no a soro para lhe dar a injeção.

Isto acontecia-me com alguma regularidade. Davam-me uma injeção de buscopan. Dormitava um pouco e passava.

Já depois de vir para Lisboa isto acontecia com regularidade. Fui várias vezes a vários médicos e nunca me diagnosticaram nada. Fiz análise a tudo o que era possível. E nada.

Antes de casar o meu futuro sogro pediu-me que fosse a um médico que tinha consultório no prédio onde ele morava. Fui. Não me disse nada de especial.

Mais tarde esse médico foi falar com o meu futuro sogro sua à oficina que ficava na cave do mesmo prédio.

- Sabe senhor Gervásio. O seu futuro genro tem uma doença complicada. Chama-se doença negra. Ele não nasceu ao pé de um rio? Olhe que ele vai ter que levar regularmente transfusões de sangue.

- Só me faltava mais esta! Diz o senhor Gervásio. Sei lá se ele nasceu ao pé de um rio. Eu já lá estive e não vi lá rio nenhum. Tenho a filha ainda a recuperar de um atropelamento que lhe partiu a perna e a fez estar um ano de cama e que ainda tem a cavilha de metal no fémur e agora isto.

Tinha-mos marcado casamento para o dia 11 de Maio de 1975. Quinze dias antes fomos (mais uma vez) almoçar ao Redondel a Vila Franca de Xira. Eu e a Fernanda. No caminho já ia mal disposto. Não comi nada ao almoço. Apenas consegui beber uns goles de Água das Pedras. Consegui guiar lentamente. Quando me vinham as dores fortes tinha que parar o carro.

As dores não eram muito localizadas. Sempre me pareceram no estômago. Por vezes eram tão fortes que quase desmaiava.

De Vila Franca demos a volta (que fazíamos com frequência) por Alverca e subindo a serra por Bucelas. Consegui levar o carro parando amiúde. Debaixo de uma figueira a meio da serra, junto ao rio em Bucelas.

Lá me arrastei até chegar à porta do banco do Hospital de Santa Maria. Parei o Fiat. A Fernanda veio abrir-me a porta para me tentar amparar até entrar no banco. Caí redondo no chão. Vieram-me buscar de maca.

Só me lembro de me terem feito uma picada num dedo e ouvir dizer: é apendicite aguda. Tem que ser operado já.

Aqui não fui capaz de reagir como em Nampula.

A Fernanda deu a morada de casa dela. Era morada da zona do Hospital dos Capuchos. Alguém me levou para lá. Fui operado nesse dia. Disse-me depois o médico que assim que espetou o bisturi o pûs soltou quase até ao teto. Estava já quase a fazer uma peritonite.

Não me lembro de alguma vez ter bebido leite. Não consigo. Mas nos dias seguintes a Fernanda trazia-o e achava graça. Eu bebia-o. Tal era a samarra que tinha na língua.

E nos dias seguintes tive febres tão altas que os médicos começaram a fazer análise com medo que fosse algo parecido com tifo. Não era. Tudo passou.

Felizmente ainda conseguimos adiar o casamento uma semana, para o dia 18 de Maio de 1975. Mas ainda ia bastante combalido.

Aguentei estas dores pelo menos durante 2 anos. Afinal o capitão médico gordo tinha razão. Eu é que tive medo. E quanto a doença negra … estamos conversados.

Fiat.jpg

 O nosso FIAT 128 em Maio de 1975 (lua de mel no Algarve) frente à pedreira de SIENITO (um tipo de granito único no mundo) em Monchique.

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publicado às 11:49

Novo aerograma para Maria Clara

por António Tavares, em 07.03.17

Hoje, eu e a tua avó de Lisboa, estamos muito felizes.

Tens menos de 2 meses. Os teus pais acabaram de chegar contigo do médico e de nos informar que os problemas que surgiram aquando do teu nascimento estão definitivamente ultrapassados.

Eu sabia que eras uma vencedora.

Estiveste ontem lá em casa pela primeira vez para comemorar os 40 anos do teu pai.

Ficámos muito felizes.

Estamos a contar os dias para te poder levar a passear ao jardim e à Casa da Paria. Vais gostar muito.

Bruno pequenino.jpg

 Olha o teu pai com pouco mais que a tua idade e que ontem acabou de fazer 40 anos!

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publicado às 13:11

72 tangerinas

por António Tavares, em 07.03.17

72 tangerinas

Nas viagens de Cardigos para Vila Nova de Poiares e vice-versa parava sempre algumas horas em Coimbra para fazer o transbordo para outra carreira. Ia-mos em grupo e a partir de Coimbra cada um seguia o seu destino.

Junto à estação de Coimbra B havia uma senhora que vendia bananas dentro dum cesto. Foi lá que comi as minhas primeiras bananas. Comprava sempre só uma. E tenho ainda na lembrança o facto de por vezes gostar muito delas e outras quase que me davam vómitos. Percebi muito mais tarde que as que não gostava eram as que estavam muito maduras. Mas nunca tive coragem (por vergonha) de dizer à senhora que não as queria muito maduras. Ainda hoje só gosto de bananas verdes.

Quando vinha a Cardigos via Sertã, alguém tinha que me ir buscar com a carroça, ao cruzamento junto a Proença-a-Nova, porque eram muitos quilómetros até ao Casalinho. Quando vinha por Cardigos a carreira deixa-me mesmo na vila. Aí eu fazia o caminho a pé até ao Casalinho.

Quando era nas férias de Natal, pelo caminho passava junto aos terrenos que, pertencentes à Dona Natividade, eram cultivados pelo meu pai. E nessa altura havia muitas laranjas e tangerinas. Lembro-me de, um belo dia, me sentar em cima de uma tangerineira e comer tangerinas sem parar. E fui-as contando. Comi 72. E no final ainda enchi os bolsos para comer até casa.

Essa quinta tinha sido em tempos, para além de zona agrícola, uma zona de veraneio e diversão. Tinha ainda alguns vestígios desses tempos áureos, que me encantavam, por nunca ter visto nada assim: um pequeno chalé num ponto alto, no meio da vinha, com churrasco e tudo, as videiras à volta do chalé eram as mais doces (moscatel, penso eu agora), havia uma nora muito grande num poço muito fundo. A nora era puxada pela mula. Deitava água para um tanque muito grande e desse tanque a água irradiava por toda a horta.

Essa quinta foi dada ao meu pai para semear e usufruir podendo ficar com tudo. A dona da quinta apenas vinha buscar tudo o que precisasse para o seu consumo.

Havia algumas árvores interessantes, que não existiam nos nossos terrenos. Uma pereira enorme diferente de todas as que conhecia. Penso hoje que pode ter sido uma pereira de pera rocha. Havia ginjeiras cuja utilidade desconhecia, porque não se podiam comer. Havia muitas romãs à volta do poço da nora. Como eram grandes davam sombra à mula enquanto ela girava à volta da nora. Havia uma nespereira enorme. Havia cerejeiras, algumas delas de cerejas muito grandes.

O meu pai comprometeu-se a limpar a vinha das eras daninhas. Especialmente dos fetos porque crescem muito e abafam as videiras, para além de secar os terrenos, porque desenvolvem raízes subterrâneas enormes. E para erradicar os fetos era necessário arrancar essas raízes todas. Calhou-me a mim esta tarefa. Tinha 10 anos. Vinha da escola a meio da tarde, dirigia-me à quinta, pegava na enxada e cavava os fetos até o sol se pôr. Depressa o meu pai percebeu que era uma luta inglória.

Pais na carroça.jpg

 O Ti Zé Maria e a Dona Delfina (meus pais). Assim vestidos só podiam ir para a missa.

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publicado às 12:05

Viver Lisboa

por António Tavares, em 07.03.17

Viver Lisboa

O meu pai deu-me imensos conselhos quando vim para Lisboa. Disse que havia uma taberna na rua da Atalaia de um compadre da terra onde se comia bem. Cedo me habituei a escolher as melhores tascas na zona da baixa para comer.

Ia com frequência a uma taberna na rua de São José, mesmo ao lado da barbearia do António Variações (onde ainda cheguei a entrar) comer carapaus fritos com arroz de tomate. Era o prato mais barato que encontrei: 8$00.

Inscrevi-me na escola Luis de Camões na Rua da Palma, para tirar o 3º ciclo do Liceu, todo no mesmo ano (10º e 11º anos). Os 1.500$00 que ganhava eram repartidos pelo custo da pensão (500$00), pela escola (500$00) e os restantes 500$00 tinham que dar para comer e vestir durante todo o mês.

E o quarto da pensão era duplo. Então não é que me calhou um companheiro que era tão meu amigo que me levava ao cinema e por vezes a comer fora. Só quando me apercebi que os filmes onde me levava versavam geralmente sobre relações muito pessoais entre homens é que me apercebi das suas intensões. Não é que fossem muito realistas, porque a censura não permitia.

Fomos algumas vezes a um bar em São Mamede (O Luis) onde só havia homens. Achava piada.

Aconteceu também vir a ser amigo de um senhor que tinha um programa da Rádio Renascença das 3 às 6 da manhã. Vim a perceber mais tarde que também esse senhor era meio esquisito, quando me convidou para ir a uma festa onde nunca fui. Parece que os homens apenas podiam levar gravata e as senhoras lenços ao pescoço.

Mesmo assim fui ter com ele e com outros amigos, à Rádio Renascença, no Chiado, algumas vezes, para lhe fazer companhia pela noite fora.

Como o programa só começava às 3 da manhã tinha que ocupar o tempo até lá. Certa vez comprei uma garrafa de Macieira, levava-a embrulhada num jornal, desci a Rua Augusta e fui-me sentar nas escadas do terreiro do paço viradas para o tejo com a garrafa debaixo do braço. Eram 2 horas da manhã.

A certa altura viro-me para trás e estavam 2 polícias a olhar para mim.

- O que é que tem aí? Perguntaram.

Expliquei o melhor que pude a situação, mostrei a garrafa e deixaram-me em paz.

Saía da escola às 11 horas da noite. Subia a pé até ao Campo dos Mártires da Pátria. E até à 1 hora da manhã sentava-me no café Primavera a estudar. Quando estava bom tempo ainda fui muita vez estudar as lições para a relva daquele jardim, debaixo da luz de um candeeiro.

Enturmei-me com um grupo de amigos da zona. Nas noites de verão fomos muitas vezes fazer corridas de caracóis para o topo do parque Eduardo VII. Fazia-mos pistas paralelas com um giz. Só se podia tocar no caracol com um palito para o manter dentro da respetiva pista.

Os exames finais do 7º ano (final do 3º ciclo - atual 11º), fui faze-los ao liceu Pedro Nunes. Chumbei a matemática. Tive que me preparar durante todo o verão para o exame de segunda época em setembro. Ia com o grupo de amigos passar as tardes de domingo para a esplanada do alto do parque Eduardo VII. Enquanto eles bebiam imperais e ouviam os relatos do futebol, eu fazia todos os exercícios de matemática, do Palma Fernandes. Outras vezes íamos para as esplanadas de Algés.

Nesse grupo de amigos havia um que trabalhava nos Bombeiros Voluntário Lisbonenses, na Rua Camilo Castelo Branco. A mascote deles era um cão pastor alemão. Ia quase sempre connosco. Certo dia esse amigo deixou de propósito a trela do cão em cima da mesa. Alertou o empregado para que não lhe mexesse. Mas mostrou-a ao cão. Quando chegamos ao fundo do jardim já próximo da rotunda ele chama o cão, aponta-lhe com o dedo lá para cima e ordena-lhe: Vai buscar a trela! O cão desata a correr por ali a cima, galga por cima das sebes e em poucos minutos aparece, ofegante, com a trela na boca.

Enfim, tive muitas solicitações, mas sempre soube ocupar o meu lugar. O lugar que quis ocupar. Sempre soube dar bom uso aos conselhos do meu pai.

Carnaval.jpg

 Partida da Carnaval num dos quartos da pensão, 47 - 1º andar da Rua de Santa Marta em Lisboa

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publicado às 11:10

Despachante na Alfândega

por António Tavares, em 07.03.17

Despchante na Alfândega

Ser ajudante de despachante alfandegário era, na altura, dos empregos mais bem remunerados, para além da sensação de liberdade.

O despachante oficial era na prática o intermediário entre os importadores (ou exportadores) e o estado. Eles faziam a vistoria à mercadoria, calculavam os diretos e impostos a pagar ao estado, tratavam da documentação e da entrega da mercadoria ao dono ou da sua saída do país. Era uma classe muito fechada e que se auto protegia. Só podiam entrar para despachantes quem já tivesse alguns (muitos) anos de ajudante de despachante. E mesmo assim eram sujeitos a provas rígidas. E mesmo assim era preciso que a Direção Geral das Alfândegas abrisse concurso para isso. Na prática os grandes escritórios de despachantes (alguns com mais de 100 empregados) dominavam até a nomeação de novos despachantes, para manterem a sua posição dominante.

Normalmente os despachantes grandes (como o caso do meu patrão – tinha 85 empregados) tinham ajudantes especializados em cada tipo de transação: importação via marítima, via aérea, exportação, encomendas postais, combustíveis, etc. Eu estive quase sempre nas importações avulsas no Jardim do Tabaco, Alcântara, Xabregas os nas encomendas postais, na Rua da Palma.

Não havia computadores. Os despachos aduaneiros eram tratados em folhas de papel grosso, para aí com 40 por 60 cm, dobradas ao meio. Neste papel eram colados todos os documentos respeitantes à mercadoria. Qualquer pedido para alterar alguma coisa, prolongar prazos, ressalvar qualquer lapso, pedir nomeação de verificadores, etc. era exarado de forma sequencial no despacho e só podia ser assinado pelo próprio despachante oficial.

Mas estavam permanentemente na rua dezenas de ajudantes em várias partes de Lisboa. Era impraticável que sempre que fosse necessário uma rúbrica ele se deslocasse ao sítio ou que o despacho fosse levado ao escritório para ele assinar. A solução: criar uma rúbrica que todos soubessem imitar. E todos os ajudantes assinavam com a rúbrica do sr despachante.

E toda a gente sabia disso. Incluindo os próprios funcionários aduaneiros. Às vezes viam-nos escrever um pedido, sair da sala e voltar em menos de um minuto. Perguntavam:

- Já foste ai escritório para o patrão assinar?

- Não, fui só ali fora. Ele estava ali dentro do carro.

O mesmo acontecia quando o patrão estava de férias. Oficialmente para se ausentar ele teria que pedir primeiro na Alfândega para um dos seus ajudantes o substituir.

Mas ninguém levantava ondas. Os donos das mercadorias queriam era vê-las desalfandegadas mesmo que isso lhes custasse um pouco mais. Então era usual nós darmos 5$00 por cada intervenção de cada funcionário em cada despacho. Havia por exemplo um cuja missão era numerar os despachos. Com um carimbo de metal redondo a que regulava a data, com um cabo alto de madeira de onde saía um botão que ao ser pressionado mudava o número, ia molhando numa almofada e pumba… pumba… pumba… ia martelando em todas as páginas e documentos do despacho, pondo em todas o mesmo número. Esse funcionário ia anotando num cartão que tinha no bolso com riscos, o número de despachos que foi numerando de cada um dos despachantes. No fim do dia vinha ter connosco: foram 8. Lá iam 40$00. E muitas vezes deixavam amontoar de propósito, os despachos a numerar.

- ò sr Joaquim tenho aí um despacho há já algum tempo. Tenho muita pressa.

É que passar um despacho do fundo do monte para o cimo contava a dobrar, eram 10$00.

E cada despacho passava por mais de meia dúzia de funcionários, cada um com a sua missão específica.

Entravamos no escritório do Campo das Cebolas às nove horas. Se havia tarefas a fazer, fazíamos. Normalmente já tinha-mos os despachos para esse dia prontos de véspera. Levantávamos o dinheiro necessário na caixa e aí vamos nós, Lisboa fora. A maior parte dos dias nem vínhamos à hora de almoço.

No fim do dia nós fazíamos a conta a todo o dinheiro gasto. Juntávamos as nossas despesas de transporte e outras. Arredondávamos com uns pozinhos para nós e entregávamos os documentos de despesa.

Naquele tempo quase não havia contentores. As mercadorias vinham a granel amontoadas dentro dos porões dos navios. Uma das mercadorias que despachei dezenas de vezes foi amianto. Vinha em sacos às costas dos estivadores do navio para o armazém e eu tinha que estar ao pé deles para ir contando os sacos entrados.

No fim do dia andávamos a passear por cima de pó de amianto. E tínhamos que o varrer.

Por vezes as mercadorias eram especiais e nós pedíamos uma “descarga direta”. As caixas eram descarregadas diretamente para os meios de transporte e seguiam, acompanhadas com um Guarda Fiscal, para casa do cliente. Nós íamos depois às instalações do cliente fazer o “exame prévio”, verificar se estava tudo certo conforme a fatura. Com o despacho pronto tínhamos que levar lá o verificador aduaneiro.

Era assim com as caixas com peças para a Renault na Guarda onde eram montados os R6. Às vezes eram dezenas de vagões carregados. Ou postes para rede elétrica, dada a sua dimensão. Ou a montagem da fábrica completa de produção de gás de cidade, na zona da Matinha (hoje desativada).

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publicado às 10:00

Cama para a Maria Clara

por António Tavares, em 02.03.17

Quando tiveres que ficar em casa da tua avó de Lisboa já tens a cama pronta.

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publicado às 15:44

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