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Para que não se esqueça ... Para que as minhas memórias não se percam para sempre e simplesmente porque me falta escrever um livro ....
Primeiro Natal da Maria Clara
Este foi o teu primeiro Natal no meio de nós. Acabaste de fazer 11 meses. Estiveste como sempre risonha, bem-disposta, sem chorar nem fazer birras.
Na Casa da Paria estavas tu e os teus pais. Os teus avós de Lisboa e o teu avô da Guarda. Os teus tios de Lisboa e o Torps. O teu pai fez qualquer brincadeira contigo e com o Torps que ele não gostou muito. Ainda te ladrou. Mas sabes, como tu agora és o centro das atenções e ele é um ciumento do caraças, não gostou muito da brincadeira. Mas deixa que isso passa-lhe. Quando tu andares e puderes brincar com ele vais ver que ele vai gostar de ti.
O teu avô faz pela 40ª vez as filhoses de Natal.
Ninguém me ensinou a fazê-las. Via a minha mãe a fazê-las e fixei na memória. Quando me casei, em 1975, comecei a faze-las todos os anos. Neste, ainda por cima com a tua presença, não podia fugir à regra.
O teu tio Tiago pediu-me que não me esquecesse de escrever a receita. Há muita maneira de fazer filhoses. Eu faço assim:
Ingredientes:
2 Quilos de farinha 65
2 Saquetas de fermento do padeiro
10 Decilitros de leite morno
Raspa e sumo de uma laranja
Meio quilo de abóbora cozida e esmagada
1 Cálice generoso de vinho do porto
1 Dúzia de ovos
Confeção:
Deita-se num alguidar grande 1 quilo de farinha. Abre-se um buraco no meio onde se deitam os ingredientes. Primeiro o fermento e o leite morno para o desfazer. Vai-se mexendo com uma mão. Depois deita-se o sumo e a raspa da laranja, a abóbora e o vinho do porto. Por fim os ovos inteiros, um a um. Vai-se mexendo sempre.
Num alguidar pequeno ao lado deita-se o outro quilo da farinha. Enquanto com uma mão se vai mexendo e enrolando a mistura, com a outra mão vai-se adicionando farinha até todo o conjunto formar uma bola que se consiga separar da mão e das paredes do alguidar. Para facilitar vai-se afastando a massa das paredes e espalhando a farinha nelas e no chão do alguidar.
Logo que faça uma bola é preciso amassá-la com as duas mãos, batendo e enrolando e virando, durante longos, longos minutos. Vai-se pondo farinha nas mãos e à volta para não pegar.
Quando a bola estiver homogénea, espalha-se farinha nas paredes e no chão do alguidar e deixa-se a bola a repousar no fundo. Tapa-se o alguidar com um pano e com casacos de malha. Deixa-se a levedar num sítio quente (não muito quente) sem nunca as destapar, durante 3 ou 4 horas.
Coloca-se uma frigideira funda o lume com óleo novo. Coloca-se um pouco de óleo numa chávena. Com os dedos molhados em óleo retira-se um pedaço de massa que forme uma bola com cerca de 4 a 5 centímetros. Vai-se esticando entre os dedos ou em cima de um prato, ou de uma tábua, untados com óleo, de modo a que fique mais grossa em redor a mais fina no meio. Deita-se no óleo já bem quente. Vai-se virando até que fiquem loirinhas dos dois lados.