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Ardeu-nos a cozinha - tinha a casa um ano

por António Tavares, em 09.10.17

Ardeu-nos a cozinha – tinha a casa um ano

Construímos a Casa da Praia nos anos 1980 e 1981. Todos os fins-de-semana íamos ver o andamento das obras. Tinha o Bruno 3 anos. Levávamos um coelho guisado e um fogareiro. Acampávamos num pinhal qualquer, fazíamos arroz de coelho e era para nós uma festa. A maior parte das vezes estragada porque as obras não avançavam, ou se avançavam lá vinha mais uma arrelia por causa de uma coisa mal feita ou outra exigência do construtor. Íamos à sua procura. Dizia que não podia ter só uma obra em andamento. Que tinha que ir fazendo várias ao mesmo tempo.

Depois de muitas zangas lá inauguramos a casa no verão de 1982. Não tínhamos mobílias. Só colchões para dormir no chão.

Passamos a ir todas as sextas-feiras à noite. Tínhamos 2 dias inteiros para trabalhar. Sempre que havia um feriado era mais um fim-de-semana prolongado. O pai da Fernanda foi comprando os gradeamentos. Eu ia-os pintando. Uma camada de primários e depois duas de tinta. Eu ia também fazendo os muros de suporte das terras e as escadas. E fiz os passeios todos em pedra que fomos comprar a Sintra.

Passávamos pela Venda do Pinheiro e levávamos o porta-bagagens do Fiat cheio de tijolos burro. Para eu ir fazendo o churrasco e o forno. Depois fiz o telheiro do churrasco.

Para fazer os passeios à volta da casa escavei primeiro uma vala funda. Revesti o fundo com brita e depois com cimento. Barrei com alcatrão toda a parede que ia ficar tapada bem como o fundo da vala. Coloquei um tubo de plástico no fundo da vala e furei-o todo. Tapei com mais brita e depois com terra por cima. Só depois construi o passeio.

Tinha verificado que em muitas casas da zona, os passeios abatiam, pouco tempo depois de serem feitos. Os nossos ainda lá estão, tal e qual como foram feitos, há quase 45 anos.

Enquanto íamos construindo a casa passeávamos pela zona a ver outras moradias em construção para tirar ideias. Foi numa delas que vimos os barrotes de ulmeiro a revestir o tecto da sala. Era a casa do secretário do presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Até candeeiros e bancos de jardim tinha levado para lá. Tinha feito a lareira com pedras de cantaria retiradas de uma demolição em Lisboa.

Mas também tivemos pessoas e virem ver a nossa obra e tirarem ideias para as suas. Como um comerciante do Sobreiro que nos pediu o contacto para comprar uma cozinha igual.

Mandamos vir de Sintra um camião de terra de jardim que andei depois a transportar em carro-de-mão e a espalhar por todo o terreno, antes de plantar a relva.

Tinha algum jeito (que aprendera com o meu pai) para trabalhos de pedreiro, mas não era capaz de rebocar paredes. Depois de terminar os muros e o churrasco teve que o pai da Fernanda levar lá um pedreiro de Lisboa (num fim-de-semana alargado) para os rebocar todos. Nós pintámo-los depois.

Arranjámos um calceteiro para fazer o empedrado da rampa da garagem.

No verão de 1985 estávamos a passar o fim-de-semana na Casa da Praia com os pais da Fernanda quando o nosso vizinho da frente fez entrar no seu quintal uma máquina de fazer furos para obter água. Ao fim de algumas horas jorrava água por todo o lado. Diz o meu sogro:

- Também podíamos fazer um furo aqui.

Fomos falar com o homem.

- Amanhã é feriado. Se quiseram trago para aqui a máquina e faço-o em pouco tempo.

No dia seguinte tivemos que vir a Lisboa buscar o dinheiro para lhes pagar, enquanto ele furava. No fim do dia jorrava água por todo o lado. 50 metros de furo pelo chão abaixo. Ainda hoje lá está, deitando água eficientemente.

Um ano depois de inaugurar a casa, ainda o churrasco não estava terminado, recebemos um sobrinho do meu sogro para almoçar connosco. O Vicente da Roussada trouxe frangos e eu assei-os entre dois tijolos à porta da garagem. Estávamos a comê-los na garagem quando ouvimos o quadro eléctrico a rebentar. Fomos ver. Toda a cozinha estava tomada pelas chamas. Tínhamos deixado ao lume a frigideira a fritar a última dose de batatas.

Peguei na mangueira e pela varanda comecei a apagar o fogo. Quando chegaram os bombeiros já quase o fogo estava dominado. Fizeram apenas o rescaldo. Felizmente tínhamos seguro que pagou tudo.

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publicado às 10:12


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