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Para que não se esqueça ... Para que as minhas memórias não se percam para sempre e simplesmente porque me falta escrever um livro ....
Fado do desertor
(Cancioneiro do Niassa)
Reprodução de memória
Estava eu na minha terra
Disseram-me vais para a guerra
Toma lá uma espingarda
E um bilhete pró navio
E uma medalha num fio
E uma velha, velha farda
Após dias de caminho
Estava já muito magrinho
Esfomeado como um rato
Olhei e vi palmeiras
Macacos e bananeiras
Entendi, estava no mato
Veio depois o nosso cabo
Disse que eu era um bom nabo
Por à noite a Deus rezar
Para ele um bom magala
Vai à noite para a Sanzala
Para uma preta arranjar
O Furriel e o Sargento
Chamavam-me fedorento
Se me viam lavar
O Alferes e o Capitão
Diziam que era calão
Se me viam descansar
Estava já farto de guerra
Que ao lembrar a minha terra
Fui um dia passear
Numa palhota sozinha
Estava uma preta girinha
Que ao ver-me pôs-se a chorar
E dessa moça morena
Eu tive tanta pena
Que fugimos para o mato
Somos um casal feliz
E já temos um petiz
Que por sinal é mulato
A referência a “sanzala” sugere que este fado tenha sido escrito em Angola e depois transportado para Moçambique. Aqui o termo era “machamba”.
Esta realidade é verdadeira, porque muitos soldados desertaram mesmo.