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Para que não se esqueça ... Para que as minhas memórias não se percam para sempre e simplesmente porque me falta escrever um livro ....
Até fazíamos vinho…
Os primeiros anos, depois de ter a casa construída, foram de muito trabalho. Mas vínhamos de lá cansados e contentes.
Pintar gradeamentos, construir muros e passeios, construir o churrasco e o forno e o telheiro, construir a piscina, plantar árvores e relva e as sebes, apanhar as ervas do meio da relva, cortar a relva … Plantámos duas fiadas de videiras que faziam uma latada, no caminho para a garagem. Logo nos primeiros anos deram tantas uvas que me propus fazer vinho. E fiz. Comprámos um barril na feira da ladra e enchemo-lo. E bebeu-se
No ano seguinte arranjámos a garagem. Chão de mosaicos, construímos a adega e a arrecadação.
Compramos 4 barris porque a ideia na altura era percorrer as adegas da zona para escolher os melhores vinhos e engarrafá-los. A garrafeira leva cerca de 500 garrafas. O mais que lá teve foram 15 ou 20 garrafas. Depois bebi-as todas…
O pai da Fernanda sugeriu que fossemos comprar uvas para esmagar e encher os barris. E enchemos. Mas fazer vinho requer muitos cuidados e atenção. Apodreceu e foi todo para o lixo.
Como a latada de videiras fazia muito lixo cortei-as todas. Plantei depois apenas meia dúzia de uvas de mesa e não as deixo crescer muito.
Quando foi inaugurado o Continente na Amadora passámos a ter mais um motivo de recreação: fazer as compras no primeiro dia de férias. Como as férias duravam um mês inteiro tínhamos que encher 2 carrinhos. Comprávamos um presunto inteiro. Por vezes nem cabia tudo no porta-bagagens do Fiat. Na viagem para a Ericeira almoçávamos no Curral dos Caprinos. Era um dia de festa…
A nossa ideia, ao planear a Casa da Praia, era construir uma casa baixa e larga. Para esse efeito teve que se aproveitar a largura máxima possível, que o terreno permitisse. Depois teve ser esticada para trás.
Cedo a Fernanda começou a dizer que não gostava por ser baixa demais. Que parecia uma barraca.
Nas tardes solarengas juntávamo-nos com outros vizinhos no restaurante o Pinhal (hoje desactivado). O dr Miguel, o António e a D Fernanda, o Manel, a Gabriela… conversa puxa conversa. Eramos todos visitas das casas uns dos outros. Quando vinham a nossa casa perguntava a todos:
- Acha a nossa casa feia? A minha mulher acha que é muito baixa e que as outras são mais bonitas…
Eu então sempre achei que a nossa era a mais bonita de todas. Por uma razão simples: era nossa!
Certo dia fomos com os meus sogros levar a chave à mulher-a-dias, a D Isaura (que ainda hoje nos limpa a casa. À porta dela diz a minha sogra:
- Esta é que é uma casa bonita. É alta. Tem uma varada grande no primeiro andar.
Não tardou que a Fernanda fizesse a cabeça ao pai para financiar a construção do primeiro andar. Mais uma sala com bar, lareira e mesa de snooker, uma varanda, casa de banho e mais 3 quartos. E mais 10 mil contos.
Na altura havia por ali muita rapaziada nova. Brincavam todos uns com os outros. Todos gostavam de vir para nossa casa porque tinha piscina. Era a única. Acabavam de almoçar e entravam com a toalha às costas. Parecia uma piscina pública.
Começámos a aborrecer-nos com isso e passamos a fechar o portão à chave. Passaram a entrar apenas quando nós queríamos.
À noite os rapazes gostavam de brincar na rua. Nós não gostávamos muito que o Bruno andasse na rua à noite. Não estávamos descansados em casa. Então mandávamo-los todos para a nossa garagem, que era grande. Mesmo assim, para podermos descansar, tínhamos que correr com eles já pela noite fora, tal era o barulho que lá faziam.
Um dos lotes em frente à nossa casa ainda estava em mato. Para os miúdos brincarem abri um caminho pelo meio do mato e lá mais acima construi-lhes uma cabana com restos de madeiras das muitas obras da zona. Fiz um telhado com canas e mato. Era um local de brincadeiras.
Um dia, tinha o Tiago poucos anos, estava eu preparando o churrasco e a Fernanda os acompanhamentos do almoço. Perguntou-me:
- Sabes do Tiago?
- Não. Mas está aqui o triciclo. Não deve estar longe.
Procurámos. Chamámos. E nada. Corremos a rua toda a chamar por ele e ele não respondia. Estava escondido na cabana do mato.
- Não ouvias a mãe a chamar?
- Ouvia, mas não quis responder…
A Casa da Praia vista do lado de trás. O Torpes sempre a espreitar-me!
A Casa da Praia vista da frente.
Ao fundo o mar (à direita) e a serra de Sintra (à esquerda).
Pormenor do meu jardim.