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Dr e Mestre

por António Tavares, em 21.08.17

Dr e Mestre

Os meus contactos pessoais ou políticos nunca foram muitos. Sempre me vali do meu trabalho. Em termos profissionais também sempre achei que nunca se deveria permanecer muito tempo no mesmo lugar. Apenas o tempo suficiente para se apreender o essencial da função e partir para outra…

Gostava do trabalho de Organização e Métodos. Era o responsável pelo estudo do trabalho das secretarias administrativas da área técnica, mas quando se criou uma estrutura hierárquica interna foi o Fernando Carvalho que foi nomeado chefe da Área Administrativa. Lavrei o meu protesto, mostrei a minha indignação e comecei a procurar novo emprego.

O Fernando Carvalho (já chefe) conseguiu o apoio da empresa (TLP) para ir tirar um mestrado. Eu não consegui esse apoio (também não o pedi) mas fui por minha conta. ISE, mestrado em Economia, ramo Planeamento.

O novo responsável pela Direcção de Planeamento pretendeu dar alguma modernidade ao funcionamento de toda a direcção. Encomendou um IBM PC. O primeiro a entrar naquela direcção. Até aí tudo era feito manualmente. Ninguém sabia mexer com ele. Nem queria aprender. Quando soube deste facto fui-me apresentar.

- Quero eu. Até estou a tirar o mestrado em planeamento…

E fui. Fui trabalhar para a área de Planeamento e Controlo da Direcção de Planeamento dos TLP. Fui tirar um curso de Lotus 123 (uma das primeiras folhas de cálculo). Passei todas as tarefas rotineiras mensais para folhas de cálculo. Todos os meses bastava acrescentar os valores mensais e imprimir os relatórios.

Folhas de cálculo, processador de texto, Lotus Freelance (grafismos), software de apresentações, etc. De tudo me vali para dar uma volta nas apresentações das reuniões mensais de controlo. Foi um secesso. E só havia uma impressora de agulhas. O próprio logotipo dos TLP foi desenhado por mim, ponto a ponto com o Freelance. E a cores. Foi necessário comprar uma nova impressora e a cores. Foi a primeira vez que apareceu o logotipo dos TLP a encimar mapas ou apresentações. E toda a gente que produzia mapas e apresentações o passou a utilizar.

O responsável pela área de controlo operacional recebeu mesmo um louvor público pelo sucesso das suas apresentações nas reuniões de controlo. Quis que fosse trabalhar com ele. Não autorizaram a minha transferência.

Numa das cadeiras do mestrado discutia-se o conceito de Gestão por Objetivos. O professor tinha no currículo a participação em gestão de grandes projectos a nível internacional, mesmo no âmbito da ONU, como o caso que nos narrou da construção de um sistema de túneis para trazer a água subterrânea do meio do deserto do Sara para Trípoli (capital da Líbia). O rio subterrâneo passou a nascer em Trípoli através de uma cascata.

Explicava ele que num projecto de devem começar por definir o objectivo final e depois vir para trás indo definindo objectivos parcelares necessários para se obter o objectivo seguinte. Quando se chega ao início tem-se a visão de todo o projecto e dos caminhos possíveis ou alternativos. Podem assim fazer-se opções consistentes para atingir o objectivo final.

- Isso é muito giro, professor, para grandes projectos. Mas eu trabalho com pequenos projectos…

- Isto aplica-se a todo o tipo de projectos. Mesmo da natureza individual. Quer um exemplo? Um rapaz aos 15 anos faz o projecto da vida dele. Objectivo final: ser rico aos 35 anos. Caminho para lá chegar? Ser médico. E dentista. E dentista porquê? Porque cada pessoa representa 32 doentes. E com consultório nas Avenidas Novas. Mas para isso tenho que entrar em medicina. E para entrar em medicina tenho que acabar o liceu com 18 valores, pelo menos. Então qual é o ponto de partida? Estudar muito. Mas podemos sempre estudar alternativas. Querem uma alternativa? Casar com uma mulher rica! E o caminho? New look, vestir bem e frequentar sítios chiques…

Acabado o mestrado achei que tinha que partir para outra. Dentro dos TLP não conseguia que alguém me valorizasse mais. Recomecei a responder a anúncios.

Para me compensar de qualquer maneira, o director, (que até gostava do meu trabalho, mandou-me 8 dias para Nice participar num congresso de computação gráfica. 1988. Achei que era um prémio e fui.

Uma vez um engenheiro amigo meu levou-me a um almoço dos TSD (trabalhadores social democratas). Na nossa mesa estava um chefe de gabinete do ministro da administração interna. Conversa puxa conversa fui chamado para chefiar um projecto de informatização numa das secretarias. Era sob requisição, mas aceitei.

Quando chegou aos TLP a minha requisição tive que desistir porque entretanto tinha concorrido para a Marconi e tinha sido chamado. E entre um lugar provisório (mas político) e um lugar não político mas definitivo, eu optei pelo último.

Estávamos mais uma vez no boom das telecomunicações. Passava pela minha mão o controlo do dinheiro gasto nas empresas em que os TLP participavam. E todos os meses eram enterrados milhares de contos na TMN, empresa em formação e participada de forma igual pelos CTT e pela Marconi. Nas reuniões de controlo toda a gente dizia que o futuro eram as comunicações móveis.

- Imaginem um engenheiro a fiscalizar uma obra, tem dúvidas sobre a evolução de um certo trabalho, pede uma imagem duma peça. Tira uma fotografia do local e manda para o escritório…

Diziam.

- Mas está tudo maluco ou quê? Pensei eu. Alguma vez será possível que saia um fax de dentro de um telemóvel?

À vista de hoje portei-me mesmo como um velho do Restelo!

Dos anúncios a que respondi fui chamado para uma entrevista para a Marconi – Direcção de Informática e Organização. Falhei a primeira entrevista porque a minha sogra estava doente e para dar apoio em casa não fui à entrevista. Marcaram para outro dia e voltei a faltar. Falei por telefone com a pessoa que ia fazer a entrevista e diz ele:

- Não faz mal. Você está nos TLP, não é? Vá à consultora fazer os testes psicotécnicos que eu prescindo da entrevista.

A guerra entre as empresas era tão grande que bastava eu estar nos TLP para ser aceite na Marconi.

Fiquei em primeiro e fui chamado.

Quando fui avisar o director que me ia embora para a Marconi, diz-me ele:

- Agora que consegui para si um lugar de Chefe de Divisão?

Se conseguiu ou não, não sei. Talvez pudesse ter conseguido, porque passados alguns meses foi nomeado administrador.

Mas entrei para a Marconi em Outubro de 1989. Mais uma vez à experiência de 6 meses, sem a Fernanda saber. Isenção de horário, 18 ordenados por ano. No tempo em que a Marconi era uma “blue chip” da bolsa de Lisboa. Cada acção valia 36 contos. Em segundo lugar no concurso ficou uma rapariga, mulher de um professor universitário, ligações com o PS.

Quer um que outro, acabaram por ir parar à Marconi, mais tarde. Ela para a Direcção de Pessoal responsável pelos orçamentos. Mas quem desenvolveu a aplicação informática fui eu em Lotus 123. E fui eu que a mantive a funcionar até ao fim da Marconi. Já eu estava no Controlo de Gestão da Marconi, sem chefia e esperando ser promovido a chefe, quando o marido foi admitido directamente para ser meu chefe. A directora também tinha ligações ao PS.

Mais uma vez, quando saí dos TLP para a Marconi, levei todo o pessoal da Direcção de Planeamento para uma sardinhada na Casa da Praia. Incluindo o director. Gostou tanto da Ericeira que acabou por comprar uma casa em Mafra. Cheguei a ir lá uma ou duas vezes. Dizia-me ele depois que fizera muito mal em me vir embora. Que contava comigo. E chegou longe. Chegou a administrador da PT. Talvez tivesse feito mesmo mal…

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publicado às 11:33


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